Recentemente, um estudo realizado pelo Banco Central trouxe à tona a relação preocupante entre beneficiários do Bolsa Família e o crescente envolvimento em jogos de azar.
Os dados mostram que, entre janeiro e agosto de 2024, mais de R$ 10,51 bilhões foram transferidos via Pix de beneficiários do programa para plataformas de apostas. Esse comportamento levanta sérias questões sobre a utilização dos recursos destinados à subsistência dessas famílias.
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, classificou os números como “muito preocupantes”, chamando a atenção para o impacto direto na inadimplência de famílias de baixa renda.
O impacto das apostas nos beneficiários
O levantamento aponta que, mensalmente, os beneficiários do Bolsa Família estão transferindo aproximadamente R$ 1,31 bilhão para casas de apostas, o que equivale a uma média de R$ 147 por pessoa.
Entre os 8,9 milhões de beneficiários que apostaram, mais de 5,4 milhões são chefes de família, responsáveis pelo sustento do lar. Juntos, esses chefes de família transferiram cerca de R$ 6,23 bilhões durante o período, o que representa 59,3% do total movimentado via Pix.
O estudo também revela uma disparidade de gênero entre os apostadores: enquanto 32 em cada 100 homens beneficiários participavam de apostas, entre as mulheres esse número era ligeiramente menor, com 28 em cada 100.
É importante destacar que esses dados consideram apenas as transações realizadas via Pix, desconsiderando outras formas de pagamento, como cartões de crédito ou débito.
Perfil dos apostadores no Brasil
No contexto geral das apostas no Brasil, o estudo do Banco Central mostrou que, até agosto de 2024, aproximadamente 24 milhões de brasileiros estavam envolvidos em algum nível de atividade de apostas. O total movimentado pelas casas de apostas varia de R$ 18 bilhões a R$ 21 bilhões mensais.
A faixa etária predominante entre os apostadores está entre 20 e 30 anos, mas o estudo aponta que quanto maior a idade, maior o valor médio apostado mensalmente. Jovens tendem a gastar cerca de R$ 100 por mês, enquanto pessoas mais velhas podem gastar até R$ 3.000.
Entre os beneficiários do Bolsa Família, 5 milhões movimentaram cerca de R$ 3 bilhões em apostas apenas em agosto de 2024.
Preocupação do Banco Central
Roberto Campos Neto expressou sua preocupação com a correlação entre o aumento nas apostas e o risco de inadimplência entre os beneficiários do Bolsa Família. Ele ressaltou que o rápido crescimento das transações via Pix para plataformas de apostas deve ser monitorado de perto.
O volume dessas transações cresceu mais de 200% desde o início de 2024, aumentando os temores sobre a deterioração da qualidade de crédito pessoal dessas famílias.
A busca por ganhos rápidos através das apostas pode estar minando a estabilidade financeira das famílias, levando-as a um ciclo perigoso de dívidas e inadimplência. A situação exige uma intervenção urgente para proteger esses beneficiários e evitar que o cenário se agrave ainda mais.
Ameaça de perda dos R$ 600
O envolvimento excessivo de beneficiários do Bolsa Família em apostas levanta a possibilidade de perdas financeiras severas, incluindo a perda do próprio benefício de R$ 600.
Se as autoridades detectarem que os recursos do Bolsa Família estão sendo usados de maneira inadequada, como em apostas, existe o risco de cancelamento do benefício. Isso coloca em risco a subsistência de milhões de famílias que dependem dessa renda para se manterem.
O crescimento das apostas, especialmente entre a população de baixa renda, expõe a fragilidade de muitos desses lares, que podem estar comprometendo sua segurança financeira ao buscar ganhos fáceis.
A regulação do mercado de apostas, aliada à educação financeira e políticas públicas adequadas, será essencial para proteger esses cidadãos de baixa renda, garantindo que o Bolsa Família continue a desempenhar seu papel fundamental na sociedade brasileira.