Nos últimos meses, o cenário das apostas online no Brasil tem mostrado uma mudança no perfil dos usuários. O número de clientes dessas plataformas cresceu de maneira notável, e um novo público está cada vez mais presente: as mulheres.
Nos últimos seis meses, os aplicativos de apostas esportivas no Brasil ganharam 25 milhões de novos usuários. Atualmente, quase metade dos 52 milhões de brasileiros que fazem apostas esportivas estão engajados nesses aplicativos.
A nova demografia das apostas
Um dos aspectos mais notáveis desse crescimento é a mudança no perfil dos apostadores. Há um ano, 78% dos usuários eram homens, mas agora 62% dos novos apostadores são mulheres.
Renato Meirelles, presidente da Locomotiva, comenta sobre essa transformação: “No começo, a aposta era algo muito ligado aos homens, especialmente aos que já tinham o hábito de apostar em esportes. Agora, o cenário está mudando rapidamente, com um número crescente de mulheres participando.”
Razões para o aumento do interesse feminino
O aumento do interesse feminino nas apostas pode ser atribuído a várias razões. Muitas mulheres começaram a usar esses aplicativos para entender melhor o destino do orçamento familiar, especialmente quando percebem que filhos e maridos estão frequentemente fazendo apostas.
Outra razão preocupante é a crença equivocada de que as apostas podem servir como uma fonte de renda extra.
Roberto Kanter, economista e professor da FGV, observa que as apostas online são atraentes por sua simplicidade e acessibilidade. “A facilidade de acesso, com apenas um celular e conexão à internet, faz com que as apostas pareçam uma oportunidade fácil para ganhar dinheiro.”
Impactos econômicos e sociais
As apostas online têm potencial para afetar a economia e a vida cotidiana de muitas pessoas. Dados recentes do Instituto Locomotiva revelam que 37% dos usuários gastaram dinheiro que seria destinado a necessidades importantes em apostas. Além disso, 45% dos apostadores sofreram prejuízos financeiros devido a suas atividades.
A SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo) indica que 63% dos apostadores tiveram uma redução na renda, levando a cortes em despesas essenciais como roupas e alimentos. A assessora econômica Kelly Carvalho destaca que, embora o impacto no varejo ainda não esteja claramente documentado, é evidente que as apostas estão afetando o consumo.
Problemas de saúde mental e comportamental
Além dos impactos financeiros, as apostas online têm gerado preocupações quanto à saúde mental. Três em cada cinco apostadores relatam benefícios para a saúde mental, mas também enfrentam um aumento na ansiedade.
O Dr. Hermano Tavares, coordenador do Programa Ambulatorial do Jogo (Pro-Amjo), alerta para o perigo do vício em apostas, especialmente entre jovens e pessoas em situação de vulnerabilidade.
Tavares critica a forma como as apostas online criam a ilusão de proximidade com a vitória, acentuando problemas financeiros e emocionais. Ele defende a necessidade de regulamentação mais rígida e de suporte adequado para tratar vícios relacionados às apostas.
É importante que haja uma maior conscientização sobre os riscos envolvidos e a implementação de medidas eficazes para proteger os usuários e minimizar os impactos negativos dessa tendência crescente.