A Cidade do Vaticano é frequentemente vista como o centro espiritual do catolicismo mundial, um lugar de fé, tradição e poder religioso. No entanto, além de seu papel religioso, o Vaticano também é dono de um dos maiores e mais complexos patrimônios do mundo, uma realidade pouco conhecida por muitos.
Este patrimônio é gerido por uma estrutura administrativa, cujas decisões e operações são influenciadas por uma única autoridade: o Papa. A administração econômica do Vaticano é um “fato político” notável, onde a visão pastoral e estratégica do Papa se sobrepõe às políticas de cada dicastério.
A história econômica do Vaticano
A história das finanças do Vaticano é cheia de episódios curiosos e, por vezes, misteriosos. Um dos casos mais populares ocorreu em 1903, quando o recém-eleito Papa Pio X descobriu que os cofres do Vaticano estavam vazios.
Leão XIII, seu predecessor, havia guardado um “tesouro” em um caixa-forte, o qual foi entregue ao novo Papa apenas um mês após sua eleição. Esse episódio ilustra como a gestão financeira do Vaticano sempre foi cercada de segredos.
APSA e o IOR
A economia do Vaticano é sustentada por três entidades principais: a Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (APSA), o Banco do Vaticano (IOR) e o Governatorato da Cidade do Vaticano.
A APSA é responsável pela gestão do patrimônio imobiliário e de investimentos, e é um dos financeiros do Vaticano. O balanço de 2019 da APSA revelou um patrimônio líquido de 886 milhões de euros.
O papel das doações e ofertas dos fiéis
Ao contrário de outros estados, o Vaticano não possui impostos nem dívida pública. Sua sustentabilidade financeira depende, em grande parte, do rendimento de seus bens e das ofertas dos fiéis.
A opinião pública dos católicos, portanto, exerce uma influência direta sobre as finanças da Santa Sé. Isso torna a transparência orçamentária e a ordem na gestão elementos essenciais para manter a confiança dos doadores e garantir a continuidade das ações caritativas e pastorais da Igreja.
A influência da Conciliação de 1929 e os investimentos do Vaticano
Grande parte do patrimônio do Vaticano tem suas raízes na Conciliação de 1929, quando Benito Mussolini, então líder da Itália, depositou um bilhão e 750 milhões de liras na Santa Sé como ressarcimento pelos bens que haviam sido confiscados com a Unificação Italiana.
Esse capital foi utilizado para construir as estruturas do novo Estado do Vaticano e para investimentos diversificados em imóveis e outros ativos. Hoje, a APSA possui imóveis em vários países, incluindo Grã-Bretanha, França, Suíça e, principalmente, Itália.
Transparência na gestão e o controle da secretaria de economia
Nos últimos anos, sob a liderança do Papa Francisco, o Vaticano tem adotado uma postura mais transparente em relação às suas finanças. A publicação do balanço da APSA em 2021 marcou um grande passo nessa direção.
A nova arquitetura de gestão econômica, liderada pela APSA e supervisionada pela Secretaria de Economia, visa garantir que os recursos do Vaticano sejam utilizados de forma eficiente e transparente.
Administrar um patrimônio global como o do Vaticano não é tarefa simples. O desafio de equilibrar a necessidade de manter o capital sem cair em práticas especulativas é constante.
O Papa Francisco, ciente desse desafio, destacou a importância de investir de forma prudente, para evitar a desvalorização do capital, mas sem recorrer a especulações arriscadas.