O retorno do horário de verão voltou a ser pauta no Brasil, desta vez com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) afirmando que a medida pode ser uma “boa alternativa” em meio à crise energética causada pela estiagem prolongada que afeta o país.
Após ser extinto em 2019, durante o governo Jair Bolsonaro, o horário de verão pode novamente se tornar uma ferramenta para economizar energia, algo que já gerou debates entre especialistas, políticos e a população.
Crise energética e estiagem
O Brasil enfrenta um período de estiagem severa, que tem pressionado o setor de geração de energia. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) indicou que os níveis dos reservatórios hidrelétricos continuarão a baixar até o final de novembro, agravando a situação de abastecimento de energia.
Para evitar uma crise mais severa, o governo está analisando diversas alternativas, entre elas a reativação do horário de verão.
Alckmin afirmou que, embora não haja risco de falta de energia, é necessário que o país busque medidas para poupar o consumo e evitar o desperdício. A campanha de conscientização para o uso racional da energia também é uma das propostas em consideração, além de investimentos em energias renováveis.
O que é o horário de verão?
O horário de verão é uma prática adotada em vários países com o objetivo de economizar energia elétrica. A ideia é adiantar os relógios em uma hora durante os meses de maior incidência solar, estimulando as atividades diárias a serem realizadas com a luz natural, diminuindo a necessidade de iluminação artificial à noite.
No Brasil, a medida costumava vigorar entre outubro e fevereiro, abrangendo o Distrito Federal e os estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Histórico do fim do horário de verão
O horário de verão foi extinto no Brasil em 2019, por meio de um decreto assinado pelo então presidente Jair Bolsonaro. A decisão foi baseada em pesquisas que indicavam que cerca de 70% da população era contrária à medida, além de estudos que apontavam que o impacto na economia de energia havia se reduzido ao longo dos anos.
O presidente justificou a extinção dizendo que, como cidadão, sempre teve “receio” do horário de verão e que sua manutenção havia perdido relevância com a modernização da rede elétrica e novos hábitos de consumo.
Antes disso, o ex-presidente Michel Temer (MDB), em 2017, já havia tentado revogar o horário de verão, mas enfrentou forte resistência popular, o que o levou a desistir da ideia.
Discussões sobre o retorno do horário de verão
Em setembro de 2023, a área técnica do Ministério de Minas e Energia (MME) emitiu parecer afirmando que, até aquele momento, não havia necessidade de reintroduzir o horário de verão. No entanto, com a intensificação da seca e a pressão sobre o setor energético, o cenário pode ter mudado.
Alckmin, em suas recentes declarações, indicou que o governo está reconsiderando a medida como parte de um esforço mais amplo para poupar energia, enquanto outras opções também estão sendo analisadas.
O vice-presidente destacou que o Brasil conta com fontes limpas de energia em crescimento, como a eólica e a solar, mas que o país precisa agir também “nas causas do problema”, como a preservação da Amazônia e medidas de descarbonização.
Como o horário de verão afeta a economia de energia?
Quando o horário de verão foi instituído, a principal justificativa era a economia de energia elétrica. Com os relógios adiantados em uma hora, o consumo de energia diminuía nos horários de pico da noite, quando as pessoas retornavam para casa e ligavam luzes e eletrodomésticos.
Isso ajudava a aliviar a demanda no sistema elétrico, especialmente em tempos de baixa oferta, como durante estiagens prolongadas que afetam os reservatórios das hidrelétricas.
No entanto, com o passar dos anos, especialistas começaram a questionar a real eficiência da medida. A evolução da tecnologia, como o uso crescente de lâmpadas de LED e novos padrões de consumo, fez com que a economia gerada pelo horário de verão fosse cada vez menor.
Estudos indicaram que o impacto da medida era mais nos anos 1990 e 2000, mas que, na última década, os resultados foram menos expressivos.
Argumentos a favor e contra o horário de verão
A favor:
- Economia de energia: Embora tenha sido reduzida com o tempo, ainda há uma expectativa de que o horário de verão possa contribuir para a redução do consumo energético durante os meses de maior demanda.
- Aproveitamento da luz natural: Com o prolongamento das horas de sol, é possível ajustar melhor as atividades econômicas e sociais para aproveitar a luz natural, reduzindo o uso de iluminação artificial.
- Menos sobrecarga no sistema elétrico: Durante os horários de pico, o sistema elétrico é menos pressionado, o que pode evitar apagões ou a necessidade de acionamento de usinas termoelétricas, que são mais caras e poluentes.
Contra:
- Baixo impacto na economia: Nos últimos anos, os estudos indicam que o horário de verão tem gerado uma economia de energia pouco significativa, e alguns especialistas questionam se os benefícios ainda justificam a medida.
- Impactos no ritmo biológico: Uma das principais críticas ao horário de verão é o impacto sobre o sono e o ritmo biológico das pessoas, que precisam se adaptar à mudança no relógio, o que pode gerar desconforto e cansaço.
- Mudança de hábitos de consumo: Com o uso de tecnologias mais eficientes e a adoção de hábitos como o home office, o consumo de energia não segue mais os padrões tradicionais, e o horário de verão pode não ter o mesmo efeito que tinha no passado.
Próximos passos
Ainda não há uma definição oficial sobre o retorno do horário de verão, mas as declarações de Alckmin indicam que o tema está sendo discutido com seriedade dentro do governo. O que se sabe até agora é que o país precisará de ações concretas para enfrentar a estiagem e garantir que não falte energia nos próximos meses.
Se o horário de verão for restabelecido, é provável que ele entre em vigor nos estados que historicamente já adotaram a medida: Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.